Pesquisa da USP Alerta: Militarização de Escolas Exclui Alunos Mais Pobres para ‘Inflar’ Desempenho

Pesquisa da USP Alerta: Militarização de Escolas Exclui Alunos Mais Pobres para ‘Inflar’ Desempenho

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP) levanta sérias críticas aos programas de escolas cívico-militares, apontando que o modelo pode estar sendo usado para excluir estudantes mais pobres e vulneráveis, elevando artificialmente os índices de desempenho.

O estudo, focado no Programa de Colégios Cívico-Militares do Paraná (CCMPR), foi conduzido pela geógrafa Rafaela Miyake, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e sugere que a finalidade não é a melhoria da educação para todos, mas sim a “elitização” da rede para sustentar a eficácia do modelo.

Exclusão de Vulneráveis Aumenta o Ideb

A principal constatação da pesquisa é que as escolas militarizadas estariam “preparando o terreno” para a melhora dos índices como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) através da exclusão.

  • Houve uma queda drástica no número de vagas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e no período noturno nas escolas que aderiram ao programa.
  • Segundo Rafaela Miyake, fechar o noturno e o EJA aumenta o Ideb porque remove alunos que, por trabalharem, tendem a ter um desempenho pior ou maior taxa de reprovação, resultando em um perfil socioeconômico de matriculados menos vulnerável ao longo do tempo.

A pesquisadora afirma que essas medidas ferem a Constituição e os próprios princípios dos programas, que deveriam priorizar escolas em vulnerabilidade social e garantir a igualdade de oportunidades.

Desempenho Ligado a Investimento, Não à Gestão Militar

A pesquisa da USP destaca que a elevação do desempenho não tem relação comprovada com a presença de militares. Rafaela Miyake afirma que não há estudos científicos que liguem a militarização diretamente ao aumento do Ideb.

O alto rendimento nas escolas militarizadas está, na verdade, relacionado a:

  1. Altos Investimentos: recursos financeiros que vão além do disponibilizado pelo estado.
  2. Melhor Infraestrutura: as escolas cívico-militares paranaenses apresentam uma infraestrutura de “exceção” em relação à rede, com mais quadras cobertas, laboratórios e bibliotecas.
  3. Perfil Socioeconômico dos Alunos: a seleção de um público com menos vulnerabilidade também contribui significativamente para as notas.

“Ilhas de Excelência” e Crítica Neoliberal

Para a geógrafa, este modelo cria “ilhas de excelência” que mascaram as desigualdades sociais ao invés de solucionar os problemas da rede pública de ensino. Ela ainda critica o uso isolado do Ideb como único critério de qualidade em um país com profundas desigualdades territoriais.

Rafaela Miyake sugere que os programas cívico-militares representam o avanço do neoliberalismo na educação, buscando inserir uma gestão corporativa para gerar altos desempenhos, o que se mostra impraticável e excludente diante da realidade brasileira.

Fonte: Jornal da USP

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